Ciclo do lixo


Por Daniella Andrade Oliveira, Lidiany Duarte, Marllon Bento, Mylena Pereira, Teka Lindoso



Lixo é tudo o que "não nos serve mais". O que é descartado por nós, no entanto, pode ter valor para outras pessoas. O tratamento correto dos resíduos pode contribuir para o desenvolvimento social, gera renda, promove sustentabilidade e ajuda a preservar os recursos naturais. Os resíduos sólidos de Mariana têm sido recolhidos, transportados e tratados de forma correta? As medidas implementadas pelo município atendem às exigências das políticas estadual e nacional de resíduos sólidos?     


Praça Minas Gerais.Foto: Marllon Bento
Das 1.350 toneladas de lixo produzidas mensalmente em Mariana, apenas 32,5 são recicladas. O município deu início ao seu Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos (PG IRSU) em 2004. Ele abrange aspectos relacionados à coleta, transporte, tratamento, reciclagem e disposição final. O plano é uma parceria entre a prefeitura de Mariana e a fundação Gorceix, com objetivo de construir um modelo de gestão para os resíduos sólidos urbanos. Mas os dados atuais do Plano não estão disponíveis para conhecimento do público pois estão inacabados. De acordo com o assessor do secretário municipal do Meio Ambiente, Eduardo Ataíde, "o projeto ainda está em andamento".
O ciclo do lixo tem início no consumo, seguindo para a produção de resíduos, o descarte e a coleta. Seu destino final é encaminhado pelo rumo da coleta. Se for recolhido por um sistema seletivo, irá para reciclagem. Do contrário, irá para um aterro sanitário, espaço criado para depósito de lixo de maneira controlada. O espaço reservado para o aterro de Mariana está situado às margens da estrada para o Distrito de Bento Rodrigues e tem prazo de utilização de 20 a 25 anos. Lá é depositado, em maior parte, lixo não reciclável. No local está em processo de implantação uma usina para reciclagem para aumentar a vida útil do aterro e reciclar o máximo possível do lixo urbano da cidade. Esta usina não interfere no trabalho já feito pela CAMAR - Centro de Aproveitamento de Materiais Reciclável de Mariana no local.
Aterro Sanitário, Mariana-MG. Foto: Luisa Oliveira

Quando não vai para a reciclagem nem para o aterro sanitário, o lixo é incinerado. Neste processo, são queimados resíduos tóxicos e hospitalares sob temperatura acima de 900 ºC. Durante o procedimento, há o aproveitamento da combustão para gerar energia elétrica e aquecimento de água. Ele também proporciona a redução dos espaços reservados para os aterros sanitários. O serviço é terceirizado e realizado pela empresa Inceco Carvalho & Souza Tratamento de Resíduos LTDA, que recolhe cerca de 1.500 kg de materiais por semana e os transporta para a cidade de Ouro Branco, aonde são incinerados. Frutas, legumes, folhas e restos de comida não são materiais recomendáveis ao processo de incineração pois a umidade prejudica a promoção das altas temperaturas necessárias. Para os orgânicos a opção é a compostagem.
Existem alternativas para o descarte do lixo. O reuso de materiais e a reciclagem, bem como a devolução de baterias, pneus e até mesmo de medicamentos vencidos para o destino adequado devem ser respeitados. Em Mariana, a lei N.º 2.515/2011 designa a instalação prévia de recipientes prontos para receber os medicamentos em todas as farmácias da cidade. A Lei Nº 2.263/2009 obriga estabelecimentos que manuseiam pneus, recolherem o produto de forma segura, sob multa de dois mil reais, caso não se cumpra a lei. A Lei Nº 2.428/2010 diz a respeito do descarte de pilhas e baterias. Estas leis concretizam o padrão de como  eliminar o lixo corretamente.

Você pode aprender a reciclar o que não usa mais e gerar uma nova utilidade para o que seria jogado fora. Estas são soluções que reduzem a produção de lixo e protegem o solo de contaminações. Os benefícios e malefícios são pagos por todos. O tratamento do lixo e as instruções para a população estruturam a base do futuro da cidade.

O hoje e o amanhã de Mariana
O papel da prefeitura é incentivar a população a consumir, utilizar e descartar racionalmente. A ação coletiva é responsável por manter um ambiente saudável e sustentável. Contudo, o que a sociedade acha a respeito das políticas  atuais de limpeza da cidade e sobre seu papel como cidadão responsável?  Quais as projeções para a finalidade dos resíduos em Mariana?
A auxiliar fiscal Rita de Kassia, 44, considera Mariana “um esgoto a céu aberto”. Ela mora na cidade há 40 anos e não sabe o horário que acontece a coleta em seu bairro. Relata que a coleta seletiva não funciona em Mariana e que a cidade necessita de uma conscientização popular. Para ela, os habitantes não sabem utilizar seus direitos e exercer sua cidadania. O serviço de limpeza urbana está defasado e não cobre todas as áreas da cidade, diz. Rita considera  limpa apenas a área central, mas critica que se “mascara" a limpeza do centro: "as ruas próximas estão podres. Os moradores não sabem aonde colocar o lixo e nem como funciona a coleta seletiva”. A moradora é a favor da implantação de lixeiras de recicláveis nas ruas, desde que haja uma explicação coletiva sobre seu uso. Ao mesmo tempo em que a auxiliar fiscal enfatiza a ineficácia da coleta do lixo, há pessoas que relatam a eficiência do mesmo serviço.
Precisamos trabalhar melhor a destinação do lixo em nossa cidade. A cidade carece melhores estruturas e melhor conscientização da população para fazer a coleta seletiva e não jogar lixo em locais inadequados. Voltamos com um projeto muito forte de sustentabilidade”, garantiu o prefeito eleito para o período 2013/2016, Celso Cota. “As escolas de Mariana serão nosso ponto de partida. Pois quando conscientizamos nossas crianças, elas passam os ensinamentos para casa. Podemos criar prêmios e viagens culturais às escolas que mais contribuírem com a coleta seletiva. Campanhas de redução do IPTU para o bairro que mais contribuir também com a coleta seletiva. Temos que produzir consciência ambiental e mostrar à população que a seleção do lixo ameniza custos e transforma o lixo em renda”. Finaliza.
A falta de cuidados e conscientização, com relação ao lixo urbano, é uma realidade em todo o país. Governo e sociedade devem promover políticas que incentivem e eduquem para colaboração e proteção do meio em que se vive. Até onde somos responsáveis pelo lixo que produzimos? Quais alternativas melhor utilização dos resíduos?


Lixo jogado em ambiente residencial. Foto: Marllon Bento


Confira os bastidores do trabalho do grupo.

Edição final: Teka Lindoso, Daniella Andrade Oliveira | Fotografia: Márllon Bento, Mylena Pereira | Making-off: Lidiany Duarte

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